O Rei Leão é lançado no Radio City Music Hall
A girafa come a cortina no palco do Radio City Music Hall. A zebra mija solenemente. Lá no seu canto, o leão ruge e assusta a pobre avestruz, que parecia ter adormecido. O elefante balança a tromba. Enquanto isso, lá fora a nevasca fustiga a cidade. Mais um dia normal no mundo maravilhoso da Disney.
Toda essa sonora, desinibida e escatológica mini-África – com direito a vegetação transportada pelos estúdios Disney para Nova York, em meio a um inverno recorde que cobriu Manhattam de branco, para divulgar o lançamento de O Rei Leão, o 32 longa-metragem de animação produzido pelo gigante do “cinema-família.
Poucos se anunciaram com tanta fanfarra, mas a reunião entre os animais e um outro tipo de fauna – jornalistas do mundo inteiro, trazidos para assistir a trechos selecionados do novo desenho – neste local até que faz sentido: antes de chegar a qualquer outra tela americana, O Rei Leão passou primeiro no Radio City Hall. É a retomada de uma parceria nascida em 1933, quando o desenho de curta-metragem Birds in the Spring, de Walt Disney, foi exibido em première neste mesmo palco.
Para reforçar a associação entre o estúdio e a casa de espetáculos, toda sessão de O Rei Leão no Radio City Music Hall é precedida de um show de palco que reúne os personagens de Walt Disney e as Rockettes, as tradicionais bailarinas pernudas da casa.
Digamos que a Disney seja tradicionalista – e supersticiosa, também. Desde A Bela e a Fera o estúdio vem promovendo sessões para mostrar à imprensa não o desenho pronto, mas sim o chamado work in progress – o desenho em diversas fases de acabamento, dos croquis a lápis até o produto final. Dessa forma, a platéia entende bem melhor as fases por que passa uma produção dessas até ficar completa. A Disney permite uma olhadela nos bastidores de produção e aguça o interesse pelo desenho quando estiver pronto.
O que tem mudado são as circunstâncias de exibição desse work-in-progress: A Bela e a Fera passou num cinema de Westwood, pacato bairro de Los Angeles, sem maiores acontecimentos. Já Aladdin foi mostrado em Disney World, antes de uma megafesta com pratos exóticos, paradas de elefantes e odaliscas ( aliás debaixo de um maior toró ). Como A Bela e a Fera ganhou indicação para o Oscar de melhor filme e Aladdin tornou-se o desenho de maior bilheteria da história ( US$ 437 milhões no mundo inteiro), é bem provável que a Disney queira não só reproduzir essa mágica, como também fazer com que o feitiço renda o dobro, ou o triplo, de antes. Pelo menos numa aspecto, no entanto, O Rei Leão difere dos demais, conforme explica Jeffrey Katzemberg, chefão da Disney, antes de passar a palavra ao diretor Rob Minkoff ( que fez dois curtas protagonizados por Roger Rabbit, Tummy Trouble e Roller Coast Rabbit e ao compositor Andrew Lloyd Weber que escreveu a quatro mãos com Elton John cinco novas canções para o desenho.
O Rei Leão “não é uma história baseada num conto de fadas ou num clássico da literatura”, explicou Katzemberg, “como foram todos os desenhos da Disney. A história contada neste filme foi criada e desenvolvida por nós.”
O novo desenho segue a vida do leãozinho Simba, herdeiro único do trono da selva- hoje ocupado por seu pai, Mufasa. Quando Mufasa morre, num acidente pelo qual Simba se culpa, o leãozinho sucumbe às maquinações do tio Scar e deixa o trono e o reino da selva nas garras do irmão de Mufasa. Mais tarde, já crescido, Simba retorna para desafiar o tio Scar e retomar o poder das selvas.
A história do Rei Leão entusiasma Rob em especial. “Este filme é quase um marco para nós”, acredita Minkoff, “porque fala do amor entre um pai e um filho, algo que nunca foi mostrado em um desenho da Disney”.
Moral da História “Cada desenho animado da Disney tem um tema central”, diz Tim Allen. Em A Pequena Sereia o tema era ‘as crianças devem ser livres para viver sua própria vida’. Em A Bela e a Fera, ‘beleza não é tudo’. Em Aladdin, ‘não tenha medo de ser o que você é’. O tema de O Rei Leão é ‘responsabilidade’. No caso, a responsabilidade de Simba é assumir o posto herdado do pai”
Aspectos técnicos de O Rei Leão também ajudam a separar este novo desenho de tudo que a Disney fez até agora. Assim como o uso de computadores deu vida aos monstros em Jurassic Park, a Disney criou o estouro de uma manada de gnus usando imagens geradas por computador. A seqüência, de apenas dois minutos, levou dois anos para ser realizada pelo time de cinco técnicos do departamento de Computer Generated Imagery da Disney.
José Emílio Rondeau, de Los Angeles
Jeremy Irons dá voz ao vilão Só para não variar, as vozes escolhidas pela Disney para dar vida aos personagens de O Rei Leão são um arraso. Jeremy Irons, por exemplo, interpreta o tio Scar, vilão da história. James Earl Jones(que emprestou suas cordas vocais ao Darth Vader de Guerra nas Estrelas ) faz Mufasa, o leão pai. Simba, o leãozinho, exigiu dois atores: Jonathan Taylor Thomas faz sua voz quando pequeno; ao crescer “vira” Matthew Broderick ( de Um Novato na Máfia).
O restante do elenco não inclui um destaque notável como Robbin Williams em Aladdin. O nome mais famoso é Whoopi Goldberg, mas ela tem poucas cenas sozinha – Whoopi forma um trio de hienas.
Entre os demais atores estão Robert Gillaune ( o babuíno Rafiki, misto de feiticeiro da tribo e sábio residente) e Moira Kelly ( a leoa Nala, amiga de Simba). “Quando se faz um levantamento de todos os desenhos realizados pela Disney ” diz o diretor Rob Minkoff, “vemos que todos tem em comum uma bela história, ótimas canções e – talvez o mais importante – excelentes personagens. Por isso é tão importante a seleção dos atores que farão as vozes. O ideal é reunir atores com experiências variadas entre si – gente que vem do cinema, gente que vem da Broadway”
J.E.R